OFICINA INTERNACIONAL

Violência, racialização e resistências num mundo anti-negro

1 a 3 de julho de 2019, 09h00-18h00

Fábrica Braço de Prata (Lisboa)

Enquadramento
Esta oficina pretende colocar em diálogo perspetivas analíticas que desde a academia, as profissões jurídicas e o ativismo político estão a debater a relação entre violência e racialização em diversos contextos (ex.: Brasil, Espanha, França ou Portugal). A articulação entre violência e racialização – que deve ser entendida como um processo genocida (João Vargas 2008; Ana Luiza Flauzina 2014) – produz formas de legitimação baseadas na matriz colonial/moderna da “necessidade” e da economia política do capitalismo, que estão na base da formação da soberania e do Estado de direito. Seguindo as reflexões de Alexander Weheliye (2014), consideramos preciso e urgente, no momento político atual, repensar “os atos de agressão politicamente motivados em termos relacionais, mais do que através dos canais da comparação, o desvio, a exceção ou a particularidade, pois estes não conseguem descrever adequadamente como exemplos específicos das relações que configuram a violência politica, dão lugar às articulações de uma totalidade ontológica” (p. 32).
O homem e a mulher branca ocidental(izado/a) continuam a sobrerrepresentar as definições político-jurídicas de humanidade (Sylvia Wynter, 2003) assim como a universalização das categorias ontocoloniais de género-sexo (María Lugones, 2008), e a existência negra continua a estar sujeita a lógicas políticas e culturais que a condenam à zona do não-ser (Frantz Fanon, 1952), num contexto de consolidação de campos discursivos hegemónicos ditos emancipatórios em nome dos direitos humanos e do feminismo. No debate sobre violência, policiamento, sistema de justiça e carcerário precisamos de um recentramento da categoria analítica raça para de facto descolonizar a produção de conhecimento em torno do complexo sistema de (re)produção da violência cotidianamente perpetrada contra os corpos racializados.